Ninguém põe hoje em dúvida que a obra de Valentino Gerratana representa um decisivo ponto de inflexão nos estudos gramscianos em todo o mundo. Graças não somente a seus vários ensaios de interpretação da obra de Gramsci, mas sobretudo em função de sua notável edição crítica dos Cadernos do cárcere, Gerratana fez com que a leitura do grande pensador revolucionário italiano ganhasse uma nova dimensão: depois de Gerratana, já não é mais possível continuar lendo Gramsci como um brilhante "especialista" nas áreas da filosofia, da ciência política ou da literatura, mas tornou-se evidente que os apontamentos contidos nos Cadernos representam a mais brilhante reflexão marxista de conjunto sobre a nossa atribulada contemporaneidade.
Na verdade, só recentemente os leitores brasileiros tomaram conhecimento direto do excepcional trabalho editorial de Gerratana. Como em outros países e áreas lingüísticas, também entre nós Gramsci foi inicalmente conhecido através da velha edição temática proposta por Togliatti, traduzida no Brasil já na segunda metade dos anos 60. Somente a partir de 1999 é que começou a ser publicada em nosso País uma edição crítica dos Cadernos, que, embora não reproduza ipsis literis a notável edição Gerratana, certamente a toma como base e principal diretriz (cf. "Una nuova edizione brasiliana di Gramsci", in IGS-Newsletter, 9/1999, p. 30-32). Na "Introdução" a esta nova edição brasileira, o leitor é plenamente informado do papel decisivo de Gerratana e de sua edição crítica no renovamento dos estudos gramscianos em todo o mundo, inclusive no Brasil.
Infelizmente, ainda não foi traduzida em português a produção ensaística de Gerratana, que, embora não muito extensa, é bastante densa e significativa. Com exceção do belo ensaio sobre Antonio Labriola contido na História do marxismo organizada por Eric J. Hobsbawm (publicada no Brasil em 12 volumes, entre 1980 e 1989), os ensaios de Gerratana permanecem inéditos em nosso idioma. O leitor brasileiro que não lê italiano não apenas ainda não tem acesso aos ensaios de Gerratana sobre Gramsci (recentemente reunidos em volume na Itália), mas também desconhece os seus argutos textos sobre Rousseau, Engels, Lenin e o marxismo em geral, que compõem a notável coletânea Ricerche di storia del marxismo, publicada na Itália em 1972.[END PAGE 24] Não tive a felicidade de conhecer Valentino mais de perto. Apenas trocamos breves palavras num simpósio gramsciano realizado em Fórmia, em 1989. Não sei sequer se ele teve ocasião de ver os volumes já publicados da edição brasileira dos Cadernos, que tanto deve ao seu trabalho. E lamento profundamente que ele não tenha mais a oportunidade de conhecer uma edição em português dos seus textos sobre Gramsci, cuja publicação se tornou agora uma tarefa inadiável.
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Desde Quito - Ecuador reciban ustedes, los familiares, amigos, e instituciones ligadas a la recuperacion de la obra de Gramsci, esta nota de pesar y solidaridad ante la muerte de Valentino Gerratana, destacado estudioso de la obra del mencionado revolucionario italiano y autor de la edición critica de los Cuadernos de la Carcel. Su ejemplo de valor intelectual y disciplina academica son muy consideradas por todos nosotros.
Con respeto,
Francisco Hidalgo Flor
Director de la Revista ESPACIOS.
Centro de Investigaciones para el Desarrollo.